“Senhora, 67 anos, robusta, admitida em plantão noturno, com alta hospitalar após uma semana. Ela refere hostilizações verbais frequentes, racismo (é negra) e chantagem emocional. É analfabeta e viúva. Foi casada com um francês, com quem teve um casal de filhos. Reside com os filhos (um é especial e parcialmente dependente de cuidados) e 4 netos. Possui pensão alimentícia e quem administra as questões financeiras é a filha. Filhos desempregados e financeiramente dependentes da mãe. É hipertensa, diabética e dislipidêmica, com abandono do tratamento por dificuldades em arcar com o custo das medicações. Ao longo da internação, ela recebeu acompanhamento com psicologia e psiquiatria. Foi orientada sobre denúncia na delegacia do idoso, mas recusou-se a denunciar. Recebeu apenas uma visita da filha, em um domingo à tarde, para buscar seu cartão de crédito. Além disso, recebeu ligação da filha para que fosse solicitada alta hospitalar uma vez que a despesa do hospital estava acima de 10 mil reais (internação totalmente paga pelo convênio).”
O que vocês me dizem do relato acima? Vou resumir em uma frase: violência conta o idoso.
As denúncias de violências contra idosos representavam, em 2019, 30% das denúncias de violação de direitos humanos do Disque 100: em torno de 45,5 mil registros. No final do ano passado, com o isolamento da covid-19, esse número aumentou para 77,18 mil denúncias. Em 60% dos casos o suspeito é um filho ou neto (Dados da Fiocruz).
A violência contra idoso não é apenas física. O abuso emocional, o abandono, a exploração de bens materiais e financeiros … São violências veladas e, na grande maioria dos casos, escondidas pelo próprio idoso por senso de responsabilidade com a família, por desinformação ou até por medo. Ele omite, releva e não busca ajuda.
Mas o idoso que sofre violência dá sinais. Aparenta tristeza, depressão, muda o comportamento diante de determinada pessoa, demonstra insegurança, medo.
Você pode evitar, pode denunciar, e a denúncia é anônima. Disque 100.