Primeiro, o chamado

Hoje fui chamada às 6h00 da manhã para ver um paciente de 90 anos em casa desacordado. Até ontem estava bem. A família, receosa, a fim de evitar o ambiente hospitalar, optou pela consulta domiciliar. Não chamou ambulância. Encontrei Sr José (nome fictício) desacordado e sem reação a nenhum estímulo, nem mesmo aos de dor.

segundo: o quadro

Ele apresentara provavelmente um evento vascular cerebral (popular
AVC). Tinha indicação de ir ao hospital fazer uma tomografia e, se confirmado, de ser monitorada em um leito de terapia intensiva.
Chamamos a ambulância, mas conversei com os filhos.
Pelo quadro apresentado pelo Sr José, era provável que o AVC fosse extenso e que ele permanecesse com graves sequelas, mesmo se sobrevivesse ao quatro agudo.
Conversa dolorida, afinal de contas ele estava bem (fez ginástica e se divertiu com a filha) até o dia anterior.

Terceiro: o amor


Só que hoje era o dia seguinte. E o “bom” do idoso frágil se desfaz em um dia. Conversei sobre um pai acamado e sem contato, que seria o quadro provável caso ele sobrevivesse ao AVC e a uma sequência de infecções hospitalares no CTI.
Os filhos entenderam que CTI não era a melhor opção. Ele era mortal, como todos nós somos, e seria melhor morrer tendo vivido bem até o último dia de sua vida.

Optaram por que fosse ao hospital confirmar com uma tomografia e ser mantida com conforto até seus últimos momentos, sem nenhuma intervenção a mais. Sem CTI.

Quarto: a conversa

De fato a paciente havia sofrido um AVC hemorrágico extenso, e está sendo tratado com suporte para ter o melhor conforto possivel nessas circunstâncias.
E a família vai, sim, ter um sofrimento intenso. Mas agudo. Que não vai se entender por semanas ou meses, de acordo com as incertezas de sua evolução no dia a dia.
Essas são conversas que precisamos ter e antecipar com as famílias, principalmente nos dias de hoje.
Precisamos também conversar sobre os benefícios de se levar ou não levar o paciente para o hospital, mesmo em situações em que a morte é um risco iminente.

Quinto: quantas situações serão?


Os hospitais estão com restrições de visitas, e precisam mantê-las, diante da atual epidemia. E muitos dos filhos de idosos são também idosos e precisam se resguardar evitando o ambiente hospitalar.
Em algumas situações, internar o idoso pode apenas aumentar seu sofrimento, e tirar-lhe a chance de:
⁃ passar serenamente os momentos finais da sua vida
⁃ deixá-lo ainda mais distante do ambiente querido, dos animais de estimação, dos amigos e dos familiares.

Consola pensar que, mesmo distante, o idoso poderiam se comunicar com a familia por tablets ou celulares. Mas muitas vezes esse idoso não consegue ouvir o celular ou ter visão boa para visualizar satisfatoriamente suas telas.

Podemos vir a ter diversos relatos de idosos dizendo: “chama minha filha porque eu estou morrendo e quero vê-la.“ Queremos isso?

Por outro lado, se for para ir ao hospital, vá. Se acontecer algo ou se sentir um mal estar novo, estranho, importante, vá ao pronto socorro. Se você tiver uma intercorrência grave, com ou sem coronavirus, lá é o lugar mais seguro para você estar. Você já pensou sobre isso? Quer desabafar, tirar dúvidas ou dar sua opinião?

Deixe sua mensagem aqui. Um abraço!

Seja muito bem-vindo ao meu blog. Um espaço onde compartilho todo o meu conhecimento sobre o universo da terceira idade. Fonte de inspiração para bem cuidar de um idoso. Boa leitura. 

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Dra. Cláudia Caciquinho

CRMMG – 36590

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