Sobre o carro da lua de mel e sobre não levantar da cama

Esse foi o carro da lua de mel do senhor José e da Dona Júlia (nomes fictícios), há 50 anos. Esta semana fui à casa deles, porque ele sentiu as pernas fracas, e não conseguiu se levantar da cama. Sabe por que teria acontecido isso?

Explico: porque o idoso tem muita sensibilidade aos medicamentos e frequentemente sofre efeito adverso desses medicamentos. Portanto, o idoso tem risco para COVID-19? Sim, tem. E também para um milhão de outras alterações que precisam ser bem avaliadas por que entende.

Olhem só essa história:

Sr. José teve quadro parecido há alguns meses, fez exames (todos normais), foram suspensos alguns remédios, e melhorou por algum tempo. Mas, agora, voltou a apresentar os mesmos sintomas. O filho pensou em chamar uma ambulância, mas disseram que não era caso de urgência. E a família estava com medo de infecção pelo coronavírus. Fui então chamada para uma avaliação domiciliar.

Ao exame, o senhor José apresentava frequência cardíaca muito baixa. E sofria queda da pressão arterial ao se levantar da cama. Essas alterações poderiam explicar os sintomas, e provavelmente os sintomas estavam associados a efeitos adversos de alguns medicamentos que ele usava.

Pensando nisso, suspendi os remédios suspeitos e repeti os exames. Ainda aguardo os resultados de alguns dos exames que pedi para repetirem, porque os iniciais estavam todos normais. Mas, independentemente dos exames, em poucos dias o senhor José estava posando para fotos e querendo passear de carro, sem sintomas. Olha isso?!

Dessa história ficam três ensinamentos:⠀

  1. Os problemas apresentados pelo idoso nem sempre aparecem nos exames iniciais
    e esses exames precisam ser realizados repetidamente para se identificar o diagnóstico.
  2. O atendimento domiciliar pode ser a solução para o idoso.
    E com frequência o é. Principalmente nessa época em que o isolamento social se torna necessário devido à quarentena e ao risco de contágio pelo coronavirus.⠀
  3. O idoso é muito sensível à ação dos medicamentos
    E frequentemente pode apresentar graves eventos adversos. Não raramente, os sintomas apresentados pelo paciente idoso podem ser resolvidos simplesmente com a retirada de alguns medicamentos.⠀

Nós, que trabalhamos com o idoso, sabemos que suas histórias (de amor) sempre são delicadas. E que preservar o idoso é preservar essas histórias. Lembre-se do risco do COVID-19, mas lembre-se que outras doenças e problemas continuam, todos, ainda por aí.

Você vai se lembrar disso quando ocorrer algo estranho com os idosos que você conhece?

E agora, nesse momento, você se lembrou de alguém que pode se beneficiar dessa informação?

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Seja muito bem-vindo ao meu blog. Um espaço onde compartilho todo o meu conhecimento sobre o universo da terceira idade. Fonte de inspiração para bem cuidar de um idoso. Boa leitura. 

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Dra. Cláudia Caciquinho

CRMMG – 36590