A COVID-19 tem gerado caos na saúde física e econômica dos países afetados. A quarentena protege os cidadãos, mas coloca em risco o equilíbrio financeiro, pois a falta de pessoas nas ruas significa queda na produção e nas vendas. E isso também precisa ser motivo de preocupação. Mas o isolamento social é a forma mais eficaz de combater o vírus e salvar vidas, principalmente dos nossos idosos, como já falei em outro post. Países como Itália e Espanha nos mostram que se não nos isolarmos, o número de doentes e óbitos pode ser maior do que se espera.

Mas, então, o que fazer? Parar ou não o país? Decretar isolamento completo ou parcial no Brasil?

Sabemos que se não tomarmos as medidas certas, que se não nos prepararmos, o nosso sistema de saúde entrará em colapso. E isso pode gerar uma crise saúde e econômica como nunca vista.

Dias de incerteza. Não se sabe se é preciso fazer uma quarentena com isolamento total no país ou se seria suficiente e menos maléfico para a economia um isolamento vertical, que só isolasse as pessoas de maior risco, principalmente os idosos.

Esse é o impasse atual no Brasil: ao decretar o confinamento total, o país irá salvar vidas, mas afundar a economia. Ao tentar salvar a economia, vai perder mais vidas.

Será?

Congrego dos que pensam que este é um falso dilema. Mas a única certeza que temos é que, sem sombra de dúvidas, precisamos pensar juntos.

O confinamento retarda a proliferação do vírus e, consequentemente, o número de óbitos. Explico isso melhor em outro post. Isso porque diminui as contaminações, a necessidade de serviços de saúde e as chances de um esgotamento do sistema de saúde, que não está preparado para atender o número previsto de doentes, caso nenhuma medida de contenção do coronavírus seja tomada. Precisamos de tempo para providenciar equipamentos e material básico (como máscaras e álcool gel) suficientes; para aumentar o número de leitos em hospitais, para treinar profissionais na saúde e padronizar atendimentos, produzir e disponibilizar kits para exame diagnóstico e itens básicos para a população, como álcool gel e educação sobre higiene e prevenção da COVID-19.

Adotar a quarentena reduziu o pico do coronavírus na China. Na Itália, a mudança para esta estratégia foi tardia, mas já vem apresentando resultados (obviamente, também tardios). Espanha e demais países da Europa também estão adotando a conduta para bloquear o vírus. E uma cientista (Britta Jewell, epidemiologista do Imperial College London) conseguiu achar o “lado bom” desse crescimento exponencial: o efeito das medidas de contenção também é sentido muito rapidamente. O gráfico acima, da matéria do New York Times, mostra, em vermelho, o número de casos reduzidos daqui a um mês se eu evitar um caso hoje; e em amarelo o número de casos reduzidos daqui a um mês se eu evitar um caso daqui a uma semana. A partir dos casos confirmados nos EUA no dia 13 de março, a cientista calculou como estaria a epidemia dali a um mês mantendo o crescimento atual; e em seguida, o que aconteceria se uma dessas infecções fosse evitada no dia (com ações como promover aulas a distância, cancelar grandes eventos e impor restrições de viagens) ou dali a uma semana. “A diferença é gritante. Se você agir hoje, (…) aproximadamente 2,4 mil infecções serão evitadas, contra apenas 600 se você esperar uma semana.” 

Os países europeus tentaram antes o isolamento vertical; e abandonaram esta estratégia quando viram que seu sistema de saúde iria entrar em colapso. Há dois erros no pensamento que defende o isolamento vertical, um é não considerar essa experiência e pensar que o isolamento vertical não foi tentado antes. O outro é desconsiderar o padrão da evolução da epidemia em outros paises, como eu explico abaixo.

Circularam alguns vídeos alegando que os hospitais estavam vazios, e que era exagero e erro de cálculo fechar serviços, inclusive atendimentos médicos eletivos, desacelerando a economia sem necessidade. Que me perdoem os que pensam assim, mas eles não compreenderam o padrão de evolução exponencial do vírus: o início da transmissão é lento e monótono, mas explode de 50 para 30.000 casos em 3 semanas.

No Brasil, temos um outro e delicado problema: os domicílios multigeracionais, quase sempre em residências pequenas, com familiares cuidadores e que são um constante no interior, nas periferias e nas favelas de todo país, como bem sabemos… E as crianças que são olhadas por avós? Como fazer isolamento vertical nessa situação?

Por fim, se pensarmos que metade da população brasileira irá adoecer, de acordo com o comportamento do vírus em outros países, teremos 100 milhões de pessoas doentes, dos quais 1 a 5%, ou seja, 1 a 5 milhões, precisarão de leitos de terapia intensiva (CTI). Fui checar quantos leitos de CTI temos no Brasil antes da COVID-19. São 14.800. Pensando por baixo, 10.000 desses leitos já estão ocupados por pessoas com outros problemas, independentes da COVID-19. Sobram 4.800 leitos.

Sou médica, não sou economista, mas me parece que quando se tem perdas humanas em grande escala, tem-se também uma redução significativa de consumo, o que destrói o sistema financeiro.

Ficam então duas perguntas:

1)Será que nossa preocupação deve ser a condição financeira de quem ficar vivo após a epidemia?

2) Será possível salvar a condição financeira, ou esta já está perdida de qualquer jeito?

Seja muito bem-vindo ao meu blog. Um espaço onde compartilho todo o meu conhecimento sobre o universo da terceira idade. Fonte de inspiração para bem cuidar de um idoso. Boa leitura. 

Categorias

Dra. Cláudia Caciquinho

CRMMG – 36590

Leave a Reply